Tuesday 25 March 2014

Hoje acordei com a saudade na cabeça.
Veio do sonho agitado que tive. E na cabeça ela rodou, foi de um lado pro outro, foi pra cima e desceu. Cabeça não sabe guardar saudade, a saudade logo aprendeu. Na garganta, quase nem cabe. Gritar saudade faz a saudade ficar e não sair. E quem foi que disse que saudade quer sair? Saudade quer é morrer. Porque saudade não se arranca. Que matem-a ou a deixem viver. E foi mais pra baixo, no peito, que achou espaço. Mas era espaço até demais. Vento que vem, vento que vai. Tudo tão agitado pro sossego que a saudade traz. Ali pro lado esquerdo achou um troço estranho. Palpitava rápido, parecia até saber o que tava fazendo (mas não sabe, não). Foi meio se encostando, pegando o ritmo. Achou engraçado o batuque que aquilo faz. Tum-tum, tum-tum. Dava música e tudo ali dentro dançava: os abraços da irmã, o açaí num dia quente, os amigos queridos, a gargalhada do irmão, o pé de manjericão, os almoços junto do pai, o som das patinhas dela vindo em sua direção, ir de havaianas pro mercado, o beijo estalado no ouvido que a mãe insistia em dar, os domingos na vó, o vestido leve. E era mais tanta coisa bonita que alí rodipiava, que foi no meio desse tanto que a saudade soube onde queria ficar. Porque saudade sabe dançar.



Wednesday 8 January 2014

Timoneiro

Pego a régua
Quero medir espaços

Que bixo pode dar
somar três línguas
menos sete anos
e esse papo esticado?

Largo o tempo
Quero esquecer compassos

Mas quantas horas
você ainda leva
pra atravesssar
esse canal manchado?



Tuesday 4 December 2012





não há
par
tidas
quando o tempo
é feito de
presente

é só chegada.